sexta-feira, 31 de maio de 2019

Homossexualidade e Bissexualidade - Parte 2


Conforme prometido segue a segunda parte do último texto.

Neste, vamos olhar o outro lado da história, vamos tentar entender como a família, os pais, mães, irmãos e a sociedade enxergam e lidam com o assunto.

Há algum tempo atrás eu com certeza iria "meter a boca", criticar tudo e todos, dizer que ter preconceito é um absurdo e blá blá blá. Empatia 0 da minha parte. Hoje sou mais madura nesse assunto maaas as vezes tenho algumas recaídas. 
Outro dia a pessoa incrível com quem eu  divido a vida falou assim: se queremos respeito, temos que dar respeito. 
Fiquei sem argumento, logo eu a rainha da argumentação. Ela tem razão!


Bom vamos lá, eu estava enrolando um pouco pra escrever esse texto mas vivi uma situação esses dias que me chamou muito a atenção. Enfrentei um certo pré conceito e ao invés de condenar a pessoa tentei entender o porquê dela pensar dessa forma.
Esse é o ponto, todo pensamento formado contém um histórico, isso não quer dizer que está certo, mas o explica.

Para os pais que tem filhos homo ou bi não deve ser fácil, não é normalmente o que eles sonham. Eles sonham com um casamento, vestido de noiva ou roupa de noivo, netos enfim, uma família tradicional. E claro, foi isso o que eles aprenderam e porque pensariam diferente não é? 
Além disso, existe a preocupação com o que os outros vão pensar, a igreja, os tios, o próprio Deus pra quem é religioso. E não tem como culpa-los, eu mesmo se eu tiver um filho hétero também não vou aceitar. (Hahaha não resisti). 
Para os pais existe toda uma questão de culpa, eles se perguntam onde erraram e se é possível corrigir esse erro. Afinal eles foram criados a achar que isso é errado, como se o filho ou filha fossem "aberrações". É muito difícil lidar com o diferente, com o que foge dos padrões. Ouvir comentários e até insultos. Não estamos preparados pra isso.


Não é diferente a questão da sociedade. Em algum momento da existência humana foi criado um padrão: homem casa com mulher, tem 2 filhos, mora em uma casa linda, acordam felizes aos sábados, usam roupas brancas e tomam café da manhã com frutas e cereais. Não espera, esse é o comercial da Doriana. 
Mas a realidade de padrão que a sociedade exige não é muito diferente disso. Foi definido que esse é o certo e esse é o padrão de felicidade.
Não há como condenar alguém que ouviu a vida inteira isso, achar que qualquer coisa diferente seja certa.

Da mesma forma os cristãos, eles leem na Bíblia, ouvem nos cultos e missas que é errado e ouvem  de todas consequências desse erro. De fato, eles condenam isso. Eu mesma já condenei por muito tempo. 
Acredito eles estão apenas querendo afastar o "pecado" e buscar uma cura para a pessoa viver feliz dentro do que acreditam ser a felicidade.

Toda a situação é muito delicada e complexa. Mas é importante entender  que as pessoas tem motivos para ser como são.

Mas isso não justifica o ódio, a violência, a descriminação e a falta de respeito.
Estamos bem longe disso, mas independente do que cada um acredita o mais importante é o respeito mútuo.

Neste caso, quem é homo ou bi precisa ter paciência e respeito, principalmente pelos familiares. Muitos levam um tempo para assimilar tudo e "aceitar" a situação. Obviamente que não deixando sua felicidade de lado, isso vem em primeiro lugar. Mas temos que usar muito a empatia e entender que esse assunto ainda é algo difícil e eles precisam aprender a lidar com isso. Ninguém é culpado por nada.

Um dia as pessoas estarão mais evoluídas para  lidarem com essas diferenças. Enquanto isso não acontece, vamos fazendo nossa parte da melhor forma que conseguirmos.

Ps. Não sei se consegui expressar exatamente o que eu gostaria com este texto, mas acho que foi um começo. Esse assunto é difícil pra mim também. Espero que tenham gostado.

Um abraço,
Marcella Vecchi

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Homossexualidade e Bissexualidade - Parte 1


Minha ideia inicial, era escrever o ponto de vista de quem é homossexual ou bissexual, ponto de vista da sociedade e da família. Mas o texto ficou muito grande e por isso vou dividi-lo. 
Esse primeiro será apenas de quem é e depois posto o outro. Eu tentei ser imparcial, mas falhei nessa tentativa e coloquei minhas opiniões ao longo do texto. Espero que gostem e comentem.

Para começar a escrever, elaborei algumas perguntas e pedi para alguns amigos e conhecidos de redes sociais responderem. Todos eles são homossexuais ou bissexuais.
A aceitação das pessoas em responderem as questões foi de imediato e fiquei muito feliz com isso. Eu senti que o assunto deveria ser mais falado, princialmente por quem o vive na pele.

Essas foram as perguntas que fiz:
Quando você se descobriu e como foi a sua própria aceitação?
Como foi e como é a aceitação da sua família? 
E amigos antigos e novos?
Você tem alguma religião? Isso te atrapalhou ou atrapalha?
Você é uma pessoa assumida ou não?
O preconceito te afeta de alguma forma? Como você lida com isso?
Como gostaria que a questão de homossexualidade/bissexualidade fosse tratada?

Existem muitas outras que poderiam ter sido feitas, mas essas são um bom começo.

Vou colocar aqui, para cada pergunta, um apanhado geral das respostas. Pensei em fazer de outra forma, mas acho que assim ficaria mais real.


A descoberta e a própria aceitação: A maioria relatou que percebia desde pequeno que algumas coisas chamavam mais atenção do que outras, diferente da maioria dos seus coleguinhas, mas não entendiam muito bem o que era. Ao invés de sentirem atração pelo sexto oposto, tinha sempre aquele do mesmo sexo que chamava mais atenção e encantava. (essa é uma característica de homossexual, para os bissexuais não era tão claro assim).

A situação se complicou quando conheceram alguém do mesmo sexo e se apaixonaram. A luta interna foi unânime. Todos tentaram de alguma forma fugir e se livrar desse sentimento. A não aceitação é a primeira coisa que vem. Dentre eles, alguns casaram, namoraram e se relacionaram com pessoas do sexo oposto em uma tentativa frustante de fugir do sentimento. Totalmente em vão e depois de algum custo ou em alguns casos, um preço alto de sofrimento, cederam ao inevitável.
Algumas mulheres relataram que choravam após ter relações sexuais com seus companheiros, outras se sentiam estupradas. Homens sentiam nojo de serem obrigados a fazer algo que realmente não queriam. 
Por incrível que pareça, a própria aceitação é uma parte muito difícil desse processo e acredito ser a mais importante. Pois quando a pessoa se aceita do jeito que é, fica mais fácil lidar com a aceitação externa.
Existem ainda por aí, muitas pessoas que não se aceitaram e ainda lutam contra esse sentimento.  

Aceitação da família: É a parte MAIS difícil de todo esse turbilhão de emoções. 100% sofreu e ainda sofre com a aceitação da família. Para a família é um choque. Não é de fato o que os pais desejam para seus filhos. Todos relataram discussões durante o momento do "anuncio" ou no mínimo uma conversa bem tensa e com choro.

Frases que as mães falaram: Preferia que você estivesse grávida; Prefiro filho drogado a filho gay; Não sei se vou suportar tudo isso, prefiro morrer.
E normalmente após essa revelação é criada uma distância entre pais e filhos, que aos poucos vai diminuindo mas requer bastante paciência e maturidade para lidar.
A maioria dos pais não concordam mas respeitam, como foi o relatado. 
Outros (poucos) nunca tiveram grandes problemas. Outros sabem porém, fingem não saber.
Tem um caso de casal de meninos que está junto há 11 anos e casado há 8. Os pais de um não sabem e provavelmente nunca saberão. Existem muitos casos assim, as pessoas optam por diversos motivos, que não falar é a melhor escolha.

Amigos: Sem grandes problemas nesse pontos, amigos de verdade sempre apoiam pois querem o bem do seu amigo. Quem se afasta nunca foi amigo (não fui imparcial)

Religião: Problemão!! A religião é uma das maiores causadora de todo o preconceito pois prega que o preço desse pecado é o inferno. Esse não é um tema muito definido no mundo gay, a maioria acredita em Deus mas não segue uma religião. Até porque muitos foram impedidos de frequentar suas igrejas devido a sua "condição".
Minha grande indignação é que o mesmo lugar onde é pregado o amor, mais incita o preconceito e o ódio. É o lugar de maior julgamento. (Imparcialidade zero)

Sobre ser assumido ou não: Depende, a maioria é assumida em ambientes de trabalho, amigos mas quando o assunto é família (tios, tias avós etc) não são. 
Uma mulher relatou que quando foi questionada pelo vizinho quem era a outra mulher que sempre frequentava sua casa e ela respondeu, pela primeira vez (elas estão juntas há mais de 4 anos) "ela é minha namorada" ela mesmo levou um choque e ficou digerindo essa resposta pelo resto do dia. Não é fácil ser assumido.

Preconceito: existe, é um fato e todos sofrem de alguma forma. 

Desejo: O que todos querem é o respeito acima de tudo. Querem que sejam tratados normalmente como um hétero é, como pessoa independente de qualquer coisa. 
Que possam ter suas vidas normais, amar e construir com uma história com quem se sentem felizes. Simples. Querem apenas igualdade e liberdade.
É muito dolorido ir a um evento ou festa de família e não poder levar a pessoa com que você divide a vida. Natal, Ano Novo, Páscoa são datas que temos que ou enfrentar o mundo e ir ou passar distante de quem amamos. 

Ser Homossexual ou bissexual não é, de fato, uma escolha. A pessoa nasce assim e a maior prova de que isso é verdade é que nós não optaríamos por sofrer tanto preconceito, distância de nossas famílias, apanhar, ser expulso de casa simplesmente por uma opção. Dá mesma forma que uma pessoa não escolhe ser hétero. Não faz sentido. Ela simplesmente é. 


Em breve posto a parte 2 finalizando o assunto. 


Agradecimento especial as pessoas que responderam: Késsia, Tati, Noemy, Vagner, Euzinha, Michele, Valdir e mais 2 pessoas que preferiram manter o sigilo.


Um abraço,
Marcella Vecchi