Minha ideia inicial, era escrever o ponto de vista de quem é homossexual ou bissexual, ponto de vista da sociedade e da família. Mas o texto ficou muito grande e por isso vou dividi-lo.
Esse primeiro será apenas de quem é e depois posto o outro. Eu tentei ser imparcial, mas falhei nessa tentativa e coloquei minhas opiniões ao longo do texto. Espero que gostem e comentem.
Para começar a escrever, elaborei algumas perguntas e pedi para alguns amigos e conhecidos de redes sociais responderem. Todos eles são homossexuais ou bissexuais.
A aceitação das pessoas em responderem as questões foi de imediato e fiquei muito feliz com isso. Eu senti que o assunto deveria ser mais falado, princialmente por quem o vive na pele.
Essas foram as perguntas que fiz:
Quando você se descobriu e como foi a sua própria aceitação?
Como foi e como é a aceitação da sua família?
E amigos antigos e novos?
Você tem alguma religião? Isso te atrapalhou ou atrapalha?
Você é uma pessoa assumida ou não?
O preconceito te afeta de alguma forma? Como você lida com isso?
Como gostaria que a questão de homossexualidade/bissexualidade fosse tratada?
Existem muitas outras que poderiam ter sido feitas, mas essas são um bom começo.
Vou colocar aqui, para cada pergunta, um apanhado geral das respostas. Pensei em fazer de outra forma, mas acho que assim ficaria mais real.
A descoberta e a própria aceitação: A maioria relatou que percebia desde pequeno que algumas coisas chamavam mais atenção do que outras, diferente da maioria dos seus coleguinhas, mas não entendiam muito bem o que era. Ao invés de sentirem atração pelo sexto oposto, tinha sempre aquele do mesmo sexo que chamava mais atenção e encantava. (essa é uma característica de homossexual, para os bissexuais não era tão claro assim).
A situação se complicou quando conheceram alguém do mesmo sexo e se apaixonaram. A luta interna foi unânime. Todos tentaram de alguma forma fugir e se livrar desse sentimento. A não aceitação é a primeira coisa que vem. Dentre eles, alguns casaram, namoraram e se relacionaram com pessoas do sexo oposto em uma tentativa frustante de fugir do sentimento. Totalmente em vão e depois de algum custo ou em alguns casos, um preço alto de sofrimento, cederam ao inevitável.
Algumas mulheres relataram que choravam após ter relações sexuais com seus companheiros, outras se sentiam estupradas. Homens sentiam nojo de serem obrigados a fazer algo que realmente não queriam.
Por incrível que pareça, a própria aceitação é uma parte muito difícil desse processo e acredito ser a mais importante. Pois quando a pessoa se aceita do jeito que é, fica mais fácil lidar com a aceitação externa.
Existem ainda por aí, muitas pessoas que não se aceitaram e ainda lutam contra esse sentimento.
Aceitação da família: É a parte MAIS difícil de todo esse turbilhão de emoções. 100% sofreu e ainda sofre com a aceitação da família. Para a família é um choque. Não é de fato o que os pais desejam para seus filhos. Todos relataram discussões durante o momento do "anuncio" ou no mínimo uma conversa bem tensa e com choro.
Frases que as mães falaram: Preferia que você estivesse grávida; Prefiro filho drogado a filho gay; Não sei se vou suportar tudo isso, prefiro morrer.
E normalmente após essa revelação é criada uma distância entre pais e filhos, que aos poucos vai diminuindo mas requer bastante paciência e maturidade para lidar.
A maioria dos pais não concordam mas respeitam, como foi o relatado.
Outros (poucos) nunca tiveram grandes problemas. Outros sabem porém, fingem não saber.
Tem um caso de casal de meninos que está junto há 11 anos e casado há 8. Os pais de um não sabem e provavelmente nunca saberão. Existem muitos casos assim, as pessoas optam por diversos motivos, que não falar é a melhor escolha.
Amigos: Sem grandes problemas nesse pontos, amigos de verdade sempre apoiam pois querem o bem do seu amigo. Quem se afasta nunca foi amigo (não fui imparcial)
Religião: Problemão!! A religião é uma das maiores causadora de todo o preconceito pois prega que o preço desse pecado é o inferno. Esse não é um tema muito definido no mundo gay, a maioria acredita em Deus mas não segue uma religião. Até porque muitos foram impedidos de frequentar suas igrejas devido a sua "condição".
Minha grande indignação é que o mesmo lugar onde é pregado o amor, mais incita o preconceito e o ódio. É o lugar de maior julgamento. (Imparcialidade zero)
Sobre ser assumido ou não: Depende, a maioria é assumida em ambientes de trabalho, amigos mas quando o assunto é família (tios, tias avós etc) não são.
Uma mulher relatou que quando foi questionada pelo vizinho quem era a outra mulher que sempre frequentava sua casa e ela respondeu, pela primeira vez (elas estão juntas há mais de 4 anos) "ela é minha namorada" ela mesmo levou um choque e ficou digerindo essa resposta pelo resto do dia. Não é fácil ser assumido.
Preconceito: existe, é um fato e todos sofrem de alguma forma.
Desejo: O que todos querem é o respeito acima de tudo. Querem que sejam tratados normalmente como um hétero é, como pessoa independente de qualquer coisa.
Que possam ter suas vidas normais, amar e construir com uma história com quem se sentem felizes. Simples. Querem apenas igualdade e liberdade.
É muito dolorido ir a um evento ou festa de família e não poder levar a pessoa com que você divide a vida. Natal, Ano Novo, Páscoa são datas que temos que ou enfrentar o mundo e ir ou passar distante de quem amamos.
Ser Homossexual ou bissexual não é, de fato, uma escolha. A pessoa nasce assim e a maior prova de que isso é verdade é que nós não optaríamos por sofrer tanto preconceito, distância de nossas famílias, apanhar, ser expulso de casa simplesmente por uma opção. Dá mesma forma que uma pessoa não escolhe ser hétero. Não faz sentido. Ela simplesmente é.
Em breve posto a parte 2 finalizando o assunto.
Agradecimento especial as pessoas que responderam: Késsia, Tati, Noemy, Vagner, Euzinha, Michele, Valdir e mais 2 pessoas que preferiram manter o sigilo.
Um abraço,
Marcella Vecchi